domingo, outubro 17, 2004

Untitled - Plácida Face

Olhando pela janela,
Tua plácida face a brilhar,
Emana tua beleza
Contra o vidro seco de luar;
E teus escuros fios pendentes
Choram o negro da noite adormecida,
Entre teus olhos flamejando quentes,
Sob o celeste de lua escondida.

Untitled - Insanidade

Não sou sano.
A minha mente contorce
A garganta do saudável,
Do normal, do sensável:
Estrangulo-a.
Os preconceitos ilógicos
Deslizam por ela abaixo,
Como resíduos por uma sarjeta.
Dela desencaixo
A voz que tudo escura,
E pinta a razão de preta,
Mascarando-a.

Porque...a razão faz-nos livres.
É simples pensar
Que sonhar e realizar,
Criar, Idealizar...
Amar;
É a razão de sermos vivos.
Foi esta razão que nos fez voar,
Foi ela que nos fez nadar;
É por ela que admiramos
As belas estrelas a gritar,
E as galáxias a girar,
E as nebulosas a amar
Suas minúsculas crias de luz a brilhar.

E vivo a razão por isso:
Porque me diz para ser eu
Sem perguntar porque é azul o céu,
Apenas vê-lo como é;
Pois a razão de o ser,
É Atlas se manter em pé,
E suportar sem fraquecer
As manhas que vemos nascer.

É simples de pensar
Porque tudo é assim:
Porque eu sou eu,
E vivo aqui em mim.
É para estar vivo,
Porque disso eu preciso
Para fazer o que faço,
Escrever e dizer,
O que penso e sinto,
Num mundo onde o sonho
Vagueia desconhecido.

Mas eu sonho, porque desejo
E desejo porque sinto
E sinto porque estou vivo
E vou continuar a viver
Porque o sonho é humano:
É a estrada de nosso ser.

E é essa a simples razão
Que me faz assim pensar,
Que me faz para sempre sonhar.
E quem não quiser acreditar
Que é livre se saltar e voar,
Pelas nuvens viver e navegar;
Quem me achar insano,
E que blasfémias estou a proferar,
Que de um alto penedo se atire:
Se estatele contra o chão.
Porque insana é a sua mente,
E mais ainda o seu coração.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Untitled - Dourados Fios

Dourados fios luzem
Na figura perante mim:
Finos cabelos aurigos
Pendendo de viva esfera,
Como pendem as estrelas amarelas
No celeste da noite negra,
Contra a Capella da brilhante Auriga,
Afogada pela plácida névoa
De bela lunar luz tingida.

Untitled - Peso Morto

Planto-me aqui,
Sentado.
A minha mente esvai-se,
Flui tal cano roto
Contra o chão,
Tal peso morto.

As palavras espremem
O fluido de ideias minhas:
Pinga tal torneira encravada,
Com a rosca desenroscada,
E esvazio-me deste corpo;
O meu físico esvazia-se
Em psicológico líquido,
Líquido evaporável...

Ele voa!
Eu vôo...
Minha mente voa
Por um mundo de fantasias,
Imaginações e memórias,
Tristezas ou alegrias.
Sonho.

Dormindo,
Minha mente permanece desperta
Neste espaço físico que a aperta,
Onde permaneço, semi-deitado, torto:
Tal inútil, peso morto.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Untitled - Laranja

Fixa.
Com suas cordas ondulando
Sobre o branco traçado,
Escrevendo;
Amarradas a sua imóvel forma
Se sustenta,
Tal marinho de oito membros
Sobre aprisionantes tentáculos negros.

Ela expele de leve o ar;
Palavras murmuradas moldadas
Por sua mente,
Sobre laranja brilhante assente:
Tons guiados
Para o mundo à esquerda apontados.

Ela vive dividida
Entre sua esquerda e direita,
Sua frente de onde aprende
Riscos aleatórios para o seu futuro:
Futuro incerto
Em sua imaginação, vivido;
Mas sua laranjas cordas bailam,
Sobre o papel de azul tingido.